Há quase 43 anos, participei de uma aventura editorial, que resultou em dois números de uma revista de cultura que, segundo afirmam os contemporâneos, marcou aquela época da vida curitibana. Era a revista Forma, feita em parceria com Philomena Gebran. Pretendíamos fundar uma tribuna concreta de divulgação da cultura, “num esforço conjunto de todos os que sentem a falta de uma revista de cultura, em nosso ambiente tão necessitado, cada vez mais, de melhores meios de comunicação entre os que trabalham e se preocupam com o problema cultural”, conforme escrevemos no primeiro editorial.
Mas de antemão fazíamos a previsão da curta vida: “Sabemos, os descrentes já nos contaram, que somos movidos por um sonho quase irrealizável e que estamos sujeitos à inclusão entre os casos – comuns – de ‘mortalidade infantil’ das revistas de cultura, conforme a expressão sugerida por Sylvio Back, um dos membros do Conselho de Redação. Conselho, aliás, composto por colaboradores de peso, como Adherbal Fortes de Sá Junior (decano da imprensa do Paraná), Célia Reis Lazzarotto (esposa de Poty), Cesar Muniz Filho(poeta perdido para a Economia), Ernani Reichmann (escritor paranaense, considerado um dos maiores especialistas em Soeren Kierkegaard, José Renato (diretor teatral que, à época, ajudava a fundar o Teatro de Comédia do Paraná), Marcos de Vasconcellos (escritor e arquiteto carioca), Sérgio Rubens Sossela (um de nossos grandes poetas, que nos deixou recentemente) e o já citado Sylvio Back, conhecido por seus filmes e, mais recentemente, por seu trabalho poético.
Chegamos ao segundo número bastante animados com a repercussão da iniciativa, não só no Paraná, mas em várias cidades brasileiras. Mas não escapamos do registro amargo no mapa epidemiológico da cultura, que registrou a revista como mais uma vítima da tal mortalidade infantil. Como pretendíamos sobreviver sem inserções publicitárias, nos baseamos em promessas de apoio cultural de autoridades da época, que, afinal, foram somente promessas. Mas valeu a experiência.
Valeu tanto que, passados mais de 40 anos, ao reler os dois únicos números, podemos verificar que todos os nossos colaboradores, se ainda não eram consagrados, tiveram todos brilhantes caminhos em suas atividades culturais. E Forma ainda é lembrada com elogios, apesar de sua curtíssima existência.
Mas volto ao assunto principal deste primeiro post, que é uma homenagem a um dos primeiros poetas publicados por Forma. Ficamos sem nos ver também por quase quarenta anos. No reencontro, rapidamente religamos os laços separados por diferentes fados, sem que tivéssemos diminuídas as ligações de amizade e valores comuns daqueles tempos de juventude.
Remarcada a agenda social, até mesmo para apresentarmos as respectivas famílias, tivemos um encontro em minha casa, na noite de 21 de maio de 2008. Conheci Neiva e ele conheceu Teresa. Com o papo mais animado, criei um momento de suspense, dizendo lamentar por ele não ter lembrado que, exatamente naquele dia, um filho seu completava 42 anos. Mas eu, querendo reparar seu esquecimento pelo filho abandonado, resolvera trazer-lhe o herdeiro para revê-lo. Claro que a comediazinha causou certo frisson no ambiente, principalmente pelo fato de Neiva, até aquela altura, desconhecer a existência de um filho de seu marido com aquela idade.
Para desvendar rapidamente o mistério, entreguei-lhe o “filho” aparentemente esquecido, que veio à luz no dia 21 de maio de 1964 e foi publicado na revista Forma 1, em 1966. Era o Poema Brabo, do reencontrado Manoel de Andrade, poeta e amigo de longa data, ressuscitado em forma de um pôster emoldurado, com a reprodução da página da revista. Apenas acrescentei, como dedicatória: reeditado em maio de 2008.
E é esta a homenagem que o primeiro post do Banco da Poesia quer fazer ao Maneco, como ele é chamado carinhosamente, com a publicação, já em formato eletrônico, de seu Poema Brabo, tal como foi editado na Forma.
CLETO…, encho a boca e o coração para te dizer: QUERIDO AMIGO. É delicioso relembrar aqueles anos quando percorríamos os caminhos da arte, do teatro e da poesia e nossa amizade, ainda em botão, já exalava o perfume imperecível desse fraterno sentimento que o tempo preservou com sua misteriosa magia. A vida nos impôs outros nortes e quarenta anos transcorreram na saudade. Agora aqui estamos, venturosos pelo reencontro e por essa abundante alegria partilhada com outros amores que a vida nos concedeu.
Obrigado amigo, pela primícia desta homenagem. Meu poema, premiado em 64, recebeu seu melhor premio quando tua originalidade gráfica o ilustrou no primeiro número da REVISTA FORMA em janeiro de 1966, e agora, postado novamente pelas tuas mãos, no BANCO DA POESIA, sai outra vez a caminhar pelo mundo, neste território ecumênico e democrático da virtualidade.
Parabéns pelo espaço que tua sensibilidade intelectual abre para os versos de todos nós, os poetas, apenas tolerados numa cultura onde a poesia perdeu sua cidadania cultural.
Um grande e fraterno abraço…, Maneco
caro cleto, quero aqui cumprimentá-lo pela iniciativa de “abrir” mais um espaço para a poesia. ela anda necessitada de encontrar leitores para que possa fazer bem a eles. tua iniciativa emociona e ao mesmo tempo nos anima a crer que ainda vale a pena escrever enquanto a alma sonha.
feliz caminhada,
grande abraço,
jb vidal
Querido Cleto! Parabéns pela fundação do Banco da Poesia! Assim que eu conseguir juntar uns trocadilhos vou te procurar pra investir aqui e ver se rende.
Sucesso e mais uma vez, obrigada por continuar investindo nesses valores abstratos.
Beijo
Marilda
Marilda:
Obrigado pelo incentivo.
Só uma dúvida: trocadilhos ou trocadinhos? Ambos são bem vindos, com o necessário condimento poético.
Retribuo o beijo.
Cleto
olá, temos um exemplar da Revista FORMA 2 / 1966. É do acervo do Jornalista Joaquim Marinho de Manaus.
Vocês têm interesse em comprar?
Atenciosamente Patricia